Wednesday, April 19, 2006

Negri e Hardt e a multidão global



Esquema da aula 7


Projeto político
Elaborar formulação conceitual que permita pensar na luta pela democracia na contemporaneidade, identificando o projeto que se desenvolve e os sujeitos políticos nele envolvidos e a ordem econômica, social e política em desenvolvimento.

Império - Princípio da totalidade.
O capitalismo hoje se coloca como um sistema totalizante, inexistindo alternativas visíveis que possam ser consideradas potencialmente pujantes.
Não existe um fora do capitalismo. apenas um sistema total que envolve todas as populações.

Estado de guerra global
O momento permite verificar a existência de um estado de guerra global, que difere da guerra vigente no estado moderno, em que a primazia de produzi-la é dos estados com seus exércitos.

Hoje a guerra é permanente, pipoca em diversos pontos do planeta e não pode mais ser considerada guerra entre nações, mas guerras civis, uma vez que localizam dentro de um único universo de poder – o império


Multidão:

Composta de um conjunto de singularidades
Sujeito social cuja diferença não pode ser reduzida à uniformidade
Mantém-se múltipla, mas não é fragmentada, anárquica ou incoerente.
É internamente diferente e múltiplo, cuja constituição e ação não se baseiam na identidade ou na unidade (nem muito menos na indiferença), mas naquilo que tem em comum.
Potencialmente formada de todos os que trabalham sob domínio do capital e que recusam este domínio

Multidão diferente de povo, de classe social, de população, de turba, de massas.

População= conjunto de indivíduos e classes diferentes

Turba= indivíduos incoerentes que não identificam elementos compartilhados em comum, sua coleção de diferenças mantém-se inerte e pode facilmente parecer um agregado indiferente.

Componentes das massas e das turbas não são singularidades, o que fica evidente pelo fato de que suas diferenças tão facilmente se esvaem na indiferença do todo.

Povo é uno. Sintetiza e reduz diferenças sociais a uma identidade. As partes componentes de povo são indiferentes em sua unidade

Tradicionalmente é o povo quem governa como poder soberano e não a multidão.
Pq só o que é uno pode governar – seja o monarca, o partido, o povo ou indivíduo

Metáfora = corpo humano. = Forma-se um corpo político dotado de uma cabeça que governa, membros que obedecem e órgãos que auxiliam e dão sustentação ao governante.

Conceito de multidão desafia esta metáfora, pq é carne viva que governa a si mesma.

Multidão é o único sujeito social capaz de realizar a democracia – governo de todos por todos

Projeto de Negri e Hardt: retomar o projeto político da luta de classes de Marx

Classe – conceito político – coletividade que luta em comum

Conceito que difere do de classe operária vigente nos séculos XIX e XX, entendida como trabalhadores industriais
Hoje considera todos os que trabalham, pq todas as formas de trabalho são produtivas socialmente

Forma hegemônica hoje é o trabalho imaterial = o que cria produção imaterial como o conhecimento, a informação, a comunicação (trabalho no setor de serviços, trabalho intelectual ou trabalho cognitivo)

Trabalho imaterial – duas formas
a) Intelectual ou lingüístico (produz idéias, símbolos, códigos, textos, formas lingüísticas, imagens e outros;
b) Afetivo – Manipula afetos como a sensação de bem-estar, tranqüilidade satisfação, excitação ou paixão.

Se antes era preciso industrializar, hoje é preciso informatizar, tornar-se inteligente, comunicativo e afetivo
Fordismo – pós-fordismo

Relações de trabalho são:
Flexíveis - trabalhadores devem se adaptar a diferentes tarefas
Móveis – Mudam de emprego constantemente
Precários – nenhum contrato assegura emprego estável de longo prazo

Multidão – carne social, carne que não é um corpo, mas é substância viva cheia de potencial (para muitos é monstruosidade – não são povos, nações ou comunidades, mas o caos que resulta do colapso da ordem social moderna)
“Precisamos encontrar meios de realizar esse monstruoso poder da carne da multidão de formar uma nova sociedade”

Produção do comum
Comum – aquilo que compartilhamos e serve de base para a produção futura, nhuma relação expansiva em espiral.
Exemplo: comunicação – linguagens, símbolos, idéias e relações que produzem novas linguagens, símbolos, idéias e relações

Hábitos – cria natureza que serve de base para a vida. – são nossa “natureza social” (exige revisão no conceito de subjetividade).

O motor da produção e da renovação encontram-se entre o individual e o social, na comunicação e na colaboração, na ação em comum.

Substituição de hábito por representação (performance)


Além do privado e do Público
Propõe uma teoria que chama de pós-liberal e pós-socialista, que englobe uma concepção de privacidade que expresse a singularidade da subjetividades sociais (não a propriedade privada) e a concepção do público baseada no comum (não o controle do Estado)

Exemplo de teoria jurídica contemporânea: escola da “teoria dos pós-sistemas”, que articula o sistema jurídico como uma rede auto organizada, transparente democrática de subsistemas plurais, cada uma dos quais organiza as normas de numerosos regimes privados – singulares.
Trata-se do direito de singularidades produzidos de forma performativa

Como as singularidades que cooperam expressam seu controle sobre o comum?

No moderno o estado controlava serviços essenciais de uso comum
No neoliberalismo eles são entregues às regulagens do mercado

No projeto de soberania da multidão, deve-se estabelecer o interesse comum, não gerido pela burocracia ou pelo mercado, mas democraticamente pela multidão.

Passagem da res publica para a res communis

Opinião pública

Na história da filosofia política moderna, a opinião pública é concebida como uma forma de mediação entre as muitas expressões individuais ou de grupo e a unidade social.

expressão da razão individual unificadas x manipulação social da massa

Desde o século XX tem sido transformada pela gigantesca expansão dos meios de comunicação de modo que nenhuma das pesquisas e pensamento teóricos de mediação dão conta do papel dos meios de comunicação e das pesquisas de opinião.

Propõe concepção da escola de Birminghan (Estudos culturais) que destaca o papel de resistência dos que recebem a ação dos meios de comunicação. Com isso se cria no interior da cultura dominante não apenas subculturas alternativas, mas redes coletivas de expressão.

Opinião pública não é expressão adequada para estas redes alternativas de expressão nascidas da resistência. (redes da multidão)

Opinião pública não é representação ou sequer substituto técnico de uma representação.
É campo de conflito definido por relações de poder nas quais podemos e devemos intervir at6ravés da comunicação, da produção cultural e de todas as outras formas de produção biopolítica.


Como estabelecer o comum?

Premissa: a democracia (“devemos reconhecer que democracia não é uma exigência absurda ou inatingível)
A vasta maioria de nossas interações políticas, econômicas, afetivas, lingüísticas e produtivas baseia-se sempre em relações democráticas. Embora pareçam espontâneas ou fixadas pela tradição, são na realidade processos civis de troca, comunicação e cooperação democráticas que desenvolvemos e transformamos diariamente.

Entrevista de Toni Negri à Rets, 2005